Sou do Benfica
ainda o Mar Morto estava doente.
Aos 6 anos o meu querido
e saudoso Avô António mostrou-me o seu quadro de estimação – um quadro com o
emblema do Benfica em relevo, com uma águia com penas naturais, olhos feitos de
pedras brilhantes e o ar mais imponente que alguma vez vi retratado nos muitos
emblemas do Glorioso que tenho visto até hoje. Tudo magistralmente emoldurado
em talha dourada, qual igreja Barroca, dando ainda mais imponência (se é que
isso era possível) ao emblema que albergava. Aquilo era a Monalisa do universo
clubístico.
A partir desse
dia, e em paralelo com o afecto que sentia pelo meu Avô António, o Benfica
passou a ser uma paixão, passou a fazer parte de mim. Até hoje.
Sou de um Clube
que, provavelmente, não tem paralelo em lugar nenhum do mundo, na mística, na
capacidade de arrastar multidões, na tradição, no significado, no amor que os
seus adeptos lhe dedicam e também... no ódio que desperta nos adeptos dos
outros clubes, nomeadamente e sobretudo, no Porto e no Sporting.
Não estou a generalizar nada. Atenção que não
posso estar aqui a dizer que o Zé, o Mário, o Chico, a Maria Francisca, o Luís e o Licas, do Porto, o Bernardo, o José, o Salvador e a Constança do Sporting,
odeiam o Benfica. Tenho a certeza que haverá adeptos destes clubes que se estão
nas tintas para o Benfica ou que, provavelmente, em competições europeias, até
por uma questão de patriotismo, mesmo que não muito convencidos, apoiam o
Benfica. Mas são uma minoria, e isso ninguém poderá dizer que não é verdade. Afirmo, portanto, que, a grande maioria dos adeptos
destes dois clubes, não ama os seus clubes – odeia o Benfica.
E é aqui que
reside a diferença e é aqui que faz com que o Benfica não possa nunca ser
comparado a estes outros clubes, porque não há comparação possível. Muito destas características que enumerei acima (a mística, a paixão dos adeptos, a
tradição, as multidões que arrasta) resultam do facto de sermos um clube que,
acima de tudo, vive, respira, vibra pelo Benfica. E isto, meus amigos, não é
para todos.
Estas duas
últimas semanas têm sido uma verdadeira provação para qualquer adepto confesso de
um clube. Terá sido, porventura, uma provação trinta vezes maior para o adepto
Benfiquista. E eu falo por mim, adepta fervorosa deste clube, adepta que em miúda, naquela idade em que as
miúdas costumam estar à porta do liceu a fazer charme aos rapazes ou em
grupinhos de amigas, preferia arrepiar caminho e ir a pé da Estação de
Benfica até ao Estádio da Luz para ver os treinos do Glorioso, que sempre que
tinha a sorte de arranjar bilhetes para o Benfica, ia toda contente, em vez de
ir às Matinés do Loucuras dar um pézinho de dança, que fazia álbuns com TODOS os recortes da Bola, que
saiam sobre o Benfica, que tirava fotografias com os jogadores que conseguia
apanhar à saída dos treinos e que assinava tudo o que era papel com “Cristina
Manniche Rafael”!
E esta semana, o
meu Benfica, depois de uma época brilhante, perdeu duas finais. E eu perdi
estas duas finais com o meu Benfica. Para mim foi como se estivesse lá
estado a correr os 90 minutos e tivesse acabado a mandar-me ao relvado,
impotente. E das duas vezes perdemos da maneira mais dolorosa – jogando bem mas
perdendo no último minuto. É o epíteto do “morrer na praia”.
Mas isto faz
parte (so I keep saying to myself) e o caminho faz-se caminhando. Para o ano lá
estaremos novamente, este ano ainda nos falta uma competição (ou duas, vamos
ver), e o Benfica continua Grande, continua a espalhar a sua mística, continua
a significar 10% do PIB nacional.
Pela parte que me toca, vou voltar a cantar as papoilas saltitantes e a dizer CARREGA, e a sofrer e vibrar e a ter esperança
que voltemos ao lugar que é nosso – o das vitórias.
Há uma máxima que
costumo empregar sempre que o Benfica perde e que me lembro de ouvir da boca de
um adepto, depois de uma partida perdida, enquanto passávamos no túnel: “Amanhã
lá acordará o país mais triste”. E tinha razão.
1 comentário:
isto sim, é a explicação do que é SER BENFICA!!! Beijinhos
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