Quando, em 2016, as miúdas nos pediram para praticar
patinagem, estava longe de pensar que o meu pobre coração tivesse que passar
por tantas provações.
A verdade é que adoro e sempre adorei, desde miúda, este
desporto. Sempre segui tudo o que era campeonatos de patinagem no gelo e sou
capaz de passar horas seguidas a ver patinagem artística, sem me aborrecer.
Diria mesmo que será, porventura, a modalidade mais elegante e bonita de todas
as modalidades desportivas, e acho até muito difícil alguém não gostar.
No entanto… ver competições de patinagem com os filhos dos
outros é muito bonito e tal, ver competições com os nossos filhos, já não é tão
bonito assim. Continuo a ficar uma pilha de nervos, continuo sempre a achar que
os júris foram super injustos na pontuação, que deviam todos dar-lhes a nota máxima,
etc, etc, ec. Coisas de mãe galinha que acha que as suas filhas são e serão
sempre as melhores da sua aldeia. Uma Mãe, portanto.
No passado fim de semana tivemos mais um Torneio. As miúdas, entretanto, mudaram de escola e
esta foi a sua primeira competição já na nova escola. Para a Luisinha foi mesmo o primeiro de sempre, já que o ano passado não foi ao Torneio onde a Sofia
participou.
Para os Torneios as meninas treinam muito. Treinam um
esquema vezes sem conta para apresentarem aos júris e serem classificadas. Chegado o dia, por
melhores que as meninas sejam, existem mil e uma condicionantes que podem ditar
o rumo da exibição. Os nervos, os júris, o piso, os próprios patins, o facto de
serem ainda muito garotas e não terem ainda grande maturidade para competições,
muita coisa pode condicionar. Se elas às vezes nem se apercebem de tudo isto,
estão só mesmo nervosas e a desejar não cair, para nós, adultos que as
acompanham, a coisa é muito difícil. Eu, por exemplo, sofro horrores. Já aqui
escrevi sobre isso e não me canso de repetir que, para mim, toda a e qualquer
competição em que as miúdas participem, é uma verdadeira provação. Não
é que não confie nos seus talentos, confio e muito. O que se passa é que não
suporto senti-las nervosas, inquietas.
Neste último Torneio, por exemplo, os últimos treinos antes
da exibição da Sofia, correram muitíssimo mal. De repente e sem nada prever, a
Sofia começou a cair muito, quase em todas as figuras que compunham o esquema. Achámos
estranho porque até à altura ela fazia tudo muito bem. Resultado, foi para o
Torneio muito amedrontada e antes de entrar para a sua prestação estava
mesmo muito nervosa.
O Treinador disse-lhe. “Antes de entrares para os piões ou
saltos, respira fundo, concentra-te e dá o teu melhor”. E ela assim fez. Embora
tenha caído algumas vezes no seu esquema, a verdade é que a exibição correu muit melhor do que aquilo que os treinos anteviam e teve uma pontuação
muito boa. Podem ver nesta foto, muito bem apanhada pelo fotógrafo da prova, a
carinha dela de pânico antes de fazer os 3 saltos Ritberg, que eram a sequência
onde ela tantas vezes caiu no treino. Reparem só na carinha dela J
Já eu… que não sei patinar, que nunca patinei (embora
tivesse passado metade de minha infância a pedir uns patins aos meus Pais), estava
na bancada cheia de vontade de saltar para o ringue, e fazer eu o esquema por
ela, só para não a ver tão nervosa e assustada. Era capaz de ser um espetáculo
bonito de se ver, só equiparado às actuações da Mulher Barbada nos Freak Shows da
Idade Média.
Com a Luísa foi um pouco diferente. Achei a Luísa
seguríssima. É certo que é mais velha e se calhar já controla melhor as suas
emoções. Também levava um esquema com um grau de dificuldade menos elevado e
eventualmente isso deu-lhe a confiança que faltou à Sofia.
No caso da Luísa as minhas “dores” são outras. Já começou
tarde na patinagem, é muito alta e está a praticar um desporto onde se começa
muito cedo. Quanto mais cedo melhor.
Assim sendo, a Luisinha, pese embora seja muito elegante a
patinar e, na minha opinião, tenha também bastante talento, tem muito medo de
cair e como tal arrisca pouco nos treinos. Ora, só caindo e tentando novamente
e caindo e tentando novamente é que se aprende. Infelizmente, num desporto que
se pratica sobre 4 rodas, não há maneira de fugir a isto e a Luisinha tem ainda
muito medo. Tem umas pernas enormes, uma altura pouco vulgar para uma miúda de 12 anos e isso não a tem ajudado muito.
A sua actuação neste Torneio foi, na minha opinião, muito
bonita. Parecia segura e acho, inclusive, que ela em contexto de competição
consegue “crescer” e sair-se bem. Não obstante, é claro que eu estava um “nervous
wreck” a vê-la naquele ringue, porque não quero que ela desista por já ser mais
crescida que as outras e não estar ainda ao nível das outras meninas. Não quero
que ela desanime e tenho vindo a acompanhá-la nesse sentido, mantendo-me por
perto naqueles momentos menos bons.
Em qualquer um dos casos, acho que elas estão a ser
excelentemente bem acompanhadas por um treinador daqueles que se encontram
raramente. Aqueles treinadores que conseguem aliar um excelente conhecimento e
skills técnicas com um lado humano, de apoio, de acompanhamento e carinho que
não é usual encontrar. Reparem no fim da actuação da Sofia, como ele, a Sofia e
a Treinadora Rita se abraçam. Eu não sei quanto a vocês mas para esta Mãe
aquilo foi tudo!! 💓
No caso da Luisinha, antes da sua actuação, o Treinador esteve
ali à conversa com ela e eu sei que isso a tranquilizou e lhe deu ânimo para
entrar e dar o seu melhor. Para além disso tem acompanhado a nossa “grandona” de
forma a que ela consiga vencer alguns medos e tem conseguido puxá-la para fora
da sua zona de conforto, obrigando-a a arriscar mais, que, na minha opinião, é
exactamente o que ela precisa.
Ás vezes também é duro, mas eu percebo os meios para chegar
aos fins e elas também.
E pronto, queria só deixar aqui mais um relato desta saga “As
minhas Filhas Patinadoras”. Pode ser que um dia mais tarde elas venham
aqui ler e recordar e perceber que isto da patinagem e das competições e da superação é só um ensaio daquilo que é a vida mas “em suave”.
Quanto a mim, sigo no meu estilo “galinha careca cheia de
nervos”. Se me perguntarem se eu gosto, eu vou responder , sem hesitar, que não. Não gosto de competições, acho que se esqueceram de me instalar esse chip, sobretudo quando são as minhas filhas que
estão a competir e nervosas e com medo. Por mim, a coisa dava-se tudo na base
da amizade e do convívio, sem necessidade de haver “juízos”. Mas este cenário, a
par dos unicórnios, é já a minha pessoa de 7 anos que insiste em habitar o meu corpo de 46 a imaginar.
Seguem as fotos e os vídeos.
Actuação da Luisinha 💖
Actuação da Sofia 💖