julho 05, 2016

Amiguinhos, o que vão ler a seguir, eu juro que não é fruto da ingestão de nenhuma substância alucinogénia ou de erva de má qualidade. É mesmo a minha pessoa e a minha cabeça, aberta, sem filtros, como está agora na moda dizer.
Não é um texto para fazer sentido, é só um desabafo.

Então aqui vai:

Há coisas na minha vida, sobretudo na minha personalidade e na minha cabeça e o que vai lá dentro, que me preocupam e que me ocupam muito, muito tempo a pensar nelas. Uma delas é o porquê de ser uma pessoa tão instável. Instável nos sentimentos, instável nas emoções, instável até na minha instabilidade.
A resposta mais óbvia é a de que sou maluca. Pronto, arrumam-se logo aqui as dúvidas e fecha-se esta gaveta. Mas se calhar não é assim tão simples. Digo eu. Afinal é, digo eu também. Adoro-me. Afinal odeio-me. Vêm o que eu quero dizer??
Desde miúda que sei que sou diferente. E podendo ser diferente de uma maneira saudável, decidi ser diferente de uma maneira que me dá muito trabalho. Justiça seja feita, que por vezes também me diverte muito, porque valorizo muito a minha diferença, que também podemos adjectivar de “loucura”, vá, a minha capacidade de pôr as pessoas a rir, a minha veia de improviso e a criatividade que acho que tenho e que me parece ser proveniente desta loucura. Mas ao mesmo tempo, é uma coisa que dá trabalho. Dá trabalho ter vontade de fazer tudo, mesmo quando estamos a falar de ir à lua, fazer amizade com um par de marcianos, convencê-los a virem comigo analisá-los e ganhar o Prémio Nobel da Fisica, para depois verificar que nem à Amadora sozinha eu consigo ir sem me perder 10 vezes, quanto mais ir à lua. Ou seja, eu passo os meus dias a sonhar em fazer mil e uma coisas, convencida que era capaz de fazê-las todas, com sucesso, e ser feliz para todo o sempre e que não incluem trabalhar em frente a um computador, sentada a uma secretária.
Dá trabalho ser uma pessoa de humores e eternamente insatisfeita. Eu sei que tenho alma de artista o que automaticamente faz de mim uma neurótica. Todos os artistas são neuróticos.  I know that, I embrace that mas é difícil viver assim. Cansa-me…  na realidade estou cansada de viver tão intensamente a  minha vida. Gostava de tirar um mês de férias mas da minha cabeça, um mês inteiro para descansar deste desassossego que sinto desde que me conheço como pessoa. Gostava de não desejar hoje ser uma cientista de renome, que vai mudar o mundo e a ciência e logo a seguir desejar trabalhar numa fábrica de enchidos, só porque sim. Mas ao mesmo tempo queria mesmo muito mudar o mundo. E queria também ser a Kim Kardashian tirar nude selfies que mostraria ao mundo sem qualquer tipo de pudor. Gosto disso! Gosto dessa irreverência, cansa-me muito a carneirada. E esta dicotomia de ser uma cientista mundialmente famosa, uma operária numa fábrica de enchidos e a kim Kardashian é, meus amigos, o dia a dia dentro da minha cabeça.


Hoje vi um longo video de um encontro de humoristas onde falaram de um episódio dos Simpsons (que eu infelizmente não vi) em que o Homer Simpson descobre que tem um lápis da Crayola atravessado no cérebro. Esse facto fazia com que ele tivesse uma personalidade neurótica mas, com a graça que todos nós lhe conhecemos. Ele decidiu retirar esse lápis da cabeça e a partir daí transformou-se num ser sem graça, estupidamente inteligente e, o  mais importante, sem neuroses. Eu sinto-me o Homer, com  a diferença de eu achar que devo ter a caixa inteira de lápis de cera da Crayola cá dentro! Juro que acho! E às vezes, eu gostaria de os tirar mas outras vezes, não! A única coisa que eu quero é importar-me menos com o Mundo! E com o gajo que estaciona no meio da faixa de rodagem, cagando de alto para quem quer circular, e com o vizinho que deixa a porta da conduta do lixo aberta, e com o dono do cão que não apanha a bosta que o animal acabou de fazer no meio do passeio, com os maus chefes que têm talento para tudo, inclusive pintar com os dedos dos pés, menos para serem chefes de alguma coisa, com pessoas parvas e maledicentes, com pais que não amam os filhos, com avós que não amam os netos. Mas se eu deixar de me importar com estas coisas, se me tirarem a caixa de lápis de cera da crayola da cabeça, então eu não andarei cá a fazer nada. Portanto, esta minha loucura e esta minha maneira cansativa de viver a vida, ou muito me engano ou vai acompanhar-me até ao resto dos meus dias.  Porque também é esta maneira cansativa de viver a vida, esta inquietude que me impele a fazer mil e uma coisas. O desespero que sinto perante um sem número de situações, com que me deparo no dia a dia, e com aspectos da minha vida, esta neurose constante que sou eu, faz com que eu procure incessantemente algo que me “aquiete” a alma. E essas coisas podem ser costurar um bikini, um avental, uma almofada, querer fazer uma plantação de framboesas na varanda, fazer uma colecção inteira de bijuteria, escrever 3 ou 4 textos de rajada, correr 10 Km, mesmo que já não corra há semanas seguidas, fazer um curso de cake design, aprender a tocar piano ou guitarra ou violino ou rabecão, eu sei lá, redecorar a sala, mudar de casa para uma quinta com vacas e galinhas e porcos e muitas, muitas flores e uma horta, ou mesmo, lá está, inventar uma vacina que salve a humanidade de todas as maleitas. Eu não posso é não ter um, ou MIL objectivos porque se isso acontecer (e às vezes acontece) eu caio num poço escuro que se chama “o poço dos objectivos perdidos nas montanhas do Gobi”, que eu não sei porque é que se chama assim mas desconfio que me ocorreu chamá-lo assim num dos meus MUITOS sonhos disparatados que tenho à noite, enquanto finjo que durmo.