Há uma música do António Variações, popularizada pelos
Humanos, que se chama “Muda de Vida”. Sempre que ouço esta canção fico horas a
trauteá-la, ao ponto de já não me poder ouvir a mim própria. Acho que é porque a
letra me diz mais do que qualquer outra letra de qualquer outra canção que
conheça. Como se tivesse sido escrita para mim, estão a ver?
Desde sempre que quando acho que cheguei a um
ponto em que já não estou feliz, mudei de vida e isso tem-me trazido tanto de bom
como de mau. Bom, em rigor, eu diria que mais de bom do que de mau mas adiante. Embora a canção fale em mudar
de vida, para mim esta insatisfação nunca se manifestou só por mudanças ao
nível da “vida”, assim aquela coisa em grande, muitas vezes, até mais do que
seria aconselhável numa pessoa só, manifestaram-se a um nível mais baixo de mudança, como por
exemplo, mudar de situação ou mudar de rumo, o que, por si só, poderá também significar
mudar de vida.
A mais recente mudança que levei a cabo foi daquelas que sim
senhor, é uma mudança com M grande. Não foi a primeira grande mudança que fiz,
lembro-me que em 2001 decidi que não queria mais andar a colecionar contratos a
termo na TAP e farewell, goodbye, arrumei as tralhas e parti para outra. Na
altura foi uma decisão de gente grande. Com 24 anos, a fazer uma coisa que
gostava muito mas numa situação precária que eu não sabia se me levaria a algum
lado a curto prazo e como aos 24 anos a malta pensa que não somos nós que temos
que esperar pela vida mas sim a vida é que tem que esperar por nós, fiz aquilo em
que sou boa, um belo dia acordei e pensei: hoje é dia de mudar de vida. E
mudei.
Há uns meses aconteceu a mesma coisa. Um belo dia, depois de
muitos dias não tão belos assim, acordei e pensei: “hoje é dia de mudar de vida.”
E mudei.
Acontece que mudar de vida aos 47 anos é “ligeiramente”
diferente de mudar de vida aos 24, seja a nível profissional, pessoal, amoroso,
o que seja. Para já, convém que tenhamos sempre por perto uma arrastadeira porque
as emoções às vezes são tramadas e a malta com a idade já não é muito certa. Tendo
este elemento controlado, se a mudança for profissional, temos que lidar com o
facto de que, quer se queira voltar ao mercado de trabalho tradicional, quer se
queira fazer algo de novo, não vai ser fácil, nem que seja pelo facto de que
ainda não percebemos o que é que queremos fazer da nossa vida dali por diante e
temos que passar por essas dores de crescimento, quer queiramos, quer não.
Problema: Já não temos 24 anos! Problema número dois: Parece que cada vez mais só nos deparamos com histórias de sucesso, fazendo com que apenas a nossa seja de insucesso ou pelo menos, caminhe para lá.
No entanto, a conclusão a que chego é que todas aquelas
histórias de sucesso que hoje estamos habituados a ver em todo o lado, que nos
relatam como fulano tal foi do zero ao cem em menos de um ano e ainda ganhou uma
viagem à República Dominicana, uma extensão do pénis ou um aumento mamário de
brinde, têm um problema: NÃO SÃO BEM ASSIM!! É como aquelas pessoas que perdem 80
kg em 2 meses. Elas perder peso perdem mas ficam cheias de peles e depois há
que as enfiar em algum lado, porque as peles não vão desaparecer. Ou seja, há
SEMPRE um “mas”, e só por isso a história deixa de ser perfeita como nos
apresentam.
Mudar de vida, se pensarmos bem, não é tão difícil assim,
sobretudo porque nesta vida há sempre uma alternativa, menos para a morte. Por isso, como agora tenho muito tempo livre adoptei um esquema que tem funcionado muito bem: sempre que me
sinto um pouco mais sem rumo lembro-me que tenho sempre a hipótese de ir para
puta e o meu dia fica logo bem melhor.