março 31, 2017

Desejo de sexta feira

Se quando for velhinha (se lá chegar, claro) não estiver a viver num sítio destes, ou parecido, para receber as filhas, os genros e os netos, então é porque alguma coisa correu muito mal.




março 16, 2017

Urgência

Esta semana, derivado de, não uma, mas duas maleitas que me andam a apoquentar (ou por outras palavras, PDI) tive que ir às urgências; e aconteceu o quê? Aconteceu um filme, foi isso que aconteceu. 
Ora bem, ir às Urgências é logo meio caminho andado para não ser uma cena, vá… fixe, digamos assim, mas a coisa até pode nem ser assim tão má, depende um pouco da Instituição , digo eu que não percebo nada de horta. Mas adiante. 
Só para vos dizer, meus amigos, que estive lá não duas, nem três, mas 4 horas! QUATRO HORAS! E porquê?
Por isto:

9:30 – Apresento-me nas Urgência do Hospital, faço a minha admissão e passado 10 minutos sou chamada à triagem. Ok, bom ritmo, o hospital apresentava poucas pessoas para a urgência, a coisa prometia. Queixo-me de dores fortes de estômago e de uma dor no peito que já se arrasta há bem mais de um mês. Sim, eu sei, são duas queixas diferentes mas já que lá ia, mais valia queixar.me das duas coisas, embora já tivesse feito um Raio X para despistar as causas da dor no peito mas sei lá, podia haver algo mais a fazer, porque o que é certo é que a dor me incomoda e muito e eu não nasci para sofrer.
O enfermeiro mede-me a temperatura, mete-me uma cena no dedo para verificar a respiração, por causa da dor no peito e está tudo bem – nem febre, nem dificuldades de respiração. Toma lá uma pulseira verde! 
Ora bem, a pulseira verde é o equivalente ao irmão do meio – NO ONE CARES!!!
Assim que vejo o homem sacar da pulseira verde pensei logo: “uuuuiiiii, parece-me que há aqui uma grande probabilidade de eu festejar aqui o meu 100º aniversário…” mas como estava pouca gente, achei que podia não ser assim tão mau.
Enganei-me claro! Passei para a sala de espera intermédia e ali fiquei à espera que me chamassem para a consulta. Esperei, esperei, esperei, esperei e esperei. Entrou o marreco, entrou o coxo, entrou o anão, entrou o caixote do lixo e a Cristininha entrar, tá quieto. Às tantas, e depois de ver todos os da pulseira amarela entrarem à minha frente, às 10:45, vejo o meu número aparecer no visor. Lá descolo o rabo da cadeira e vou para o Gabinete 6. Ao entrar o médico olha para mim e diz-me. “Já nos conhecemos?” e eu, que nunca tinha visto o homem na minha vida, juro que tive a tentação de lhe responder que sim, CLARO, ou chamá-lo de tio, ou algo assim, qualquer coisa que me garantisse que me iam despachar mais rápido apesar da minha desgraçada pulseira verde. Mas como possuo princípios, disse-lhe que não, com um sorriso amarelo.
Lá me queixei das minhas maleitas, ele fez lá o papel dele, muito simpático, devo dizer, e mandou-me fazer análises e mais um Raio X ao tórax.
Voltei à sala de espera e, lá está, esperei.
Esperei e esperei e esperei e esperei. Eu e a minha pulseira verde.
12:00 – Sou chamada à sala de tratamentos para fazer análises. Sento-me numa poltrona e ouço uma enfermeira, que tinha aspecto de quem já mandava ali no pedaço, dizer para uma outra enfermeira. “prepara-te que vais tirar sangue a esta menina”.
Eu afundada na poltrona, levanto os olhos e vejo uma enfermeira de ar assustado mas a sorrir (são as piores) a dirigir-se a mim.
Nisto, a enfermeira chefe diz-lhe: “Senta-te para ficares mais confortável”. E eu que já adoro tirar sangue, é uma coisa que, quando não tenho nada que fazer, gosto que me façam, pensei: “Pronto, f#$%& para mim! Vão pôr a miúda que acabou o curso de enfermagem há 5 minutos a tirar-me sangue e a colocar o cateter que é outra coisa pela qual eu tenho particular estima: tirarem o sangue e deixarem lá o cateter, é realmente muito agradável”.
Levanto a manguinha para deixar a minha rica veia à mercê da rookie lá do sítio, que se põe a apalpar-me a veia. Nisto a "chefa" diz-lhe “escusas de apalpar a veia, estás com sorte isso é quase uma canalização.” PIMBA!  Cristina Rafael a facilitar a vida às enfermeiras bebé, desde 1972.
Depois é história. Não correu muito mal, pese embora a miúda estivesse visivelmente nervosa, (juro que vi pingos de suor a escorrerem pela testa) e as mãos a tremer. Não espetou muito bem a agulha e o sangue começou a sair para o sítio errado, o que fez parecer que tinha acontecido ali todo um acidente de mota. Mas não doeu, a pequena foi super cuidadosa e quando ganhar experiência vai ser uma enfermeira top, tenho a certeza! Não vai é ter a sorte de apanhar sempre estas veias sensuais desta menina, mas pronto, não se pode ter tudo.
Feita a colheita de sangue, passei para onde? Para a Disneylandia, não, mentira, para a sala de espera.
Sentei-me na cadeira em frente ao visor das senhas para ver se chegava a minha vez mais depressa (e também porque possuo miopia), quando entra na sala mais uma pulseira amarela acompanhada do filho. Sentam-se nas cadeiras atrás de mim e o que é que sucede? Invadem a minha bolha! Ou seja, eu estou sentada, direita, porque, vamos lá a ver, há que haver alguma compostura, e estas pessoas sentam-se e encostam-se a mim! Ou seja, ocupam o seu espaço e o MEU espaço! E acham que está tudo bem, tá fixe assim! Sujeita, inclusive a apanhar piolhos, mas tá tuuuudo bem!  Resultado, tenho que me “desencostar” porque suas excelências acham que a sua cadeira não é suficiente e que as minhas costas são bem melhores que o encosto da sua cadeira! 
Nesta altura eu já estou a deitar fumo por todos os orifícios que tenho no corpo, (sim, por esse também) e levanto-me disposta a ir correr para os corredores do Hospital, toda nua com um cutelo na mão que nem uma louca assassina. Sou salva pelo gongo, por uma enfermeira espanhola que chama pelo meu nome, na versão castelhana da coisa, para ir para o raio x.
Entro na sala do Raio X e a Técnica manda-me entrar na salinha 2, despir da cintura para cima e vestir a bata. Dirijo-me à sala dois, abro a porta e quase mato o idoso que lá estava a acabar de se vestir do coração. A Técnica, atrapalhada, pede desculpa ao idoso, pede desculpa a mim e manda-me para a sala 3. E eu, tudo bem, já nada me pode afectar, a mim ou à minha pulseira verde.
Faço o raio x e dirijo-me para a minha segunda casa, a sala de espera, sento o fofo numa cadeira encostada à parede, porém, longe do visor das senhas.
13:20: Sou FINALMENTE chamada à Sala 6 para receber o diagnóstico. Está tudo bem, com excepção de uma gastrite e uma fissura na costela (a versão mariquinhas da costela partida). Para além disto, contraí também nestas 4 horas de espera o vírus da pulseira verde, que provoca nervos e estado de irritabilidade acentuados. Pode também dar para sair do Hospital com o cateter enfiado na veia e só voltar atrás quando já arrotámos 90 biscas, no check out e estamos a estacionar a viatura na garagem da empresa, de onde estivemos ausentes A MANHÃ INTEIRA.


E depois disto tudo, estou aqui a escrever-vos este relato, quando recebo este email:






Estimado(a) Cliente Sr(a) CRISTINA RAFAEL,
A sua opinião é importante para nós!
Ambicionamos prestar-lhe um serviço de excelência, por isso pedimos 30 segundos do seu tempo para avaliar a sua experiência na Rede Médis, relativamente à consulta realizada dia 14-03-2017, no prestador HOSPITAL XXX XXXXXXXX.
Aceda por favor ao questionário de satisfação carregando aqui.

Obrigado por nos ajudar a melhorar o nosso serviço.
Médis, faz bem à Saúde!


Olha, só se for à vossa!!!!

março 01, 2017

As minhas filhas patinadoras I

Em toda a minha vida, houve duas alturas em que pensei que ia desta para melhor. A primeira foi há uns anos, ainda no meu tempo de Faculdade e a segunda foi no passado fim de semana. 
Certo dia uma colega deu-me boleia da Faculdade e deixou-me ao pé da estação da CP.
Para apanhar o autocarro até casa eu precisava de atravessar a estação, e por conseguinte, atravessar a linha de comboio. Não havia passagem subterrânea como há hoje em quase todas as estações. Eu já sou do tempo da outra senhora e no “meu tempo” não havia cá dessas modernices; era atravessar pela linha ou ir dar a volta pelas Ilhas Britânicas. Bom, estava eu a dizer, que tinha de atravessar a linha, mas como sou moça que desde tenra idade vive um pouco ligada à nave, que se encontra estacionada no Planeta Namec, saí do carro da minha colega, subi para a estação, sempre afundada nos meus pensamentos, que agora não me lembro quais eram mas de certeza que passavam pela salvação do Planeta, ou pela erradicação da fome na Etiópia, e caminhei até à estação, neste estado meio adormecido.
Lembro-me de ter sido "acordada" por um grito ao longe (que afinal até foi bem perto de mim) e que me fez parar a marcha para ver do que se tratava. Ou seja, gaja que é gaja, tem que parar para ver quem é que está a gritar, por mais distraída que vá. E foi isto que me salvou a vida, meus amigos, porque nessa fracção de segundos, passou a alta velocidade, quase a arrancar-me o nariz, um comboio. Pois… eu ia de facto atravessar a linha de comboio sem olhar e, se não fosse um senhor a dar um berro que lhe saiu lá do fundo da alma, para eu parar, eu teria, portanto, lá está, ficado debaixo do comboio.
Mas a verdade é que ainda não tinha chegado a minha hora. Parei a escassos milímetros do comboio, dei um pulo para trás e fiquei ali meia hora a recuperar do susto, feliz só pelo simples facto de continuar viva.
No Domingo passado, acho que estive tão ou mais perto de me finar como no dia do comboio.
Domingo foi o dia em que as minhas ricas filhas foram realizar os seus primeiros testes de patinagem. Para quem não está dentro da cena, eu explico: as miúdas andam desde setembro do ano passado na patinagem. Não, espera, correcção: as miúdas andam, desde setembro do ano passado na patinagem do Sport Lisboa e Benfica! Pronto, importa aqui ser preciso.  Assim sendo, e como já são inclusive atletas federadas pelo Benfica, periodicamente vão tendo que prestar provas daquilo que vão aprendendo. É uma espécie de mínimos para os Jogos Olímpicos, estão a ver? Elas têm aulas onde aprendem os vários elementos da patinagem, treinam coreografias com esses elementos obrigatórios e de tempos a tempos, vão apresentar-se perante um júri, em eventos onde estão também outros clubes com outras meninas e meninos, e têm que prestar provas para irem passando de nível, ate serem umas grandas atletas da patinagem mundial.
Foi portanto a primeira vez que as nossas filhotas (e nós pais) se viram nestas andanças, que, convenhamos, para miúdas de 7 e 11 anos é, no mínimo, assustador. E para miúdas de 45 ainda mais assustador é!
Eu, que como bem sabem, sempre sonhei ser Patinadora do Gelo, entrei em transe dois meses antes do evento. As variáveis assim o justificavam, senão vejam:

- As minhas filhas queridas
- Patinagem Artística
- Vestidas de Patinadoras
- A prestar provas diante de um júri  
- Pelo Benfica
E estão reunidas as condições para eu me ficar ali, esticada no recinto.
As provas realizaram-se no dia 26 de Fevereiro, e às 8 da manhã já tinhamos de lá estar. Eram 5:00 da manhã e eu já estava de pestana aberta, depois de uma noite inteira a olhar para o tecto a fazer as coreografias todas. 
Acordei as miúdas às 6:00 e toca de lhes fazer o penteado, maquilhá-las um pouquinho (um glitter fica sempre bem), vesti-las com aqueles magníficos vestidos de patinadoras cheios de brilhantes e finalmente vestir-lhes o fato de treino com o emblema d' O Glorioso! Também lhes dei o pequeno almoço mas isso agora não interessa nada.
Fotos, fotos, fotos, guardar para a posteridade e ala que se faz tarde. Quando começaram as provas, percebemos que por mais que nos preparemos para ver as nossas bebés prestar provas em frente a um juri, sabê-las nervosas, ver as pernitas a tremer quando chega a vez delas fazerem a sua coreografia, na realidade nunca estamos preparados. e eu, meus amigos, para além de não estar preparada, como é sabido, sou rapariga que sofre dos nervos e portanto ainda menos preparada estava. 
Para mais, as miúdas que estavam lá para prestar provas eram mais que as mães e primeiro que chegasse a vez das minhas, pareceu-me uma eternidade. Quando chegou a vez da primeira entrar eu já estava uma miséria, parecia que já tinha tido três ataques de esgana, apesar dos dois calmantes que já tinha enfiado no bucho.
A Luisinha prestou provas para 3 níveis e a Sofia para 2. Ambas passaram os seus níveis, com distinção, apesar de, no terceiro nível a Luisinha ter dado uma pequena queda e eu ter ficado sem batimento cardíaco para aí durante umas duas horas e meia. Claro que na  minha opinião totalmente imparcial, acho que o júri não tinha mesmo outra hipótese senão passar as minhas duas miúdas, porque, de facto, as pequenas foram (são) para cima de espectaculares. Mas isto, pronto, é a minha opinião, totalmente isenta!
O júri era constituído por três senhoras. A do meio, uma ruiva que parecia a Mérida, mas versão mázona de primeira, era a dona daquilo tudo. Quando as miúdas acabavam a sua coreografia, chamava-as e mandava-as repetir passos. Depois, no fim, trocavam as três umas impressões e, ou mostravam cartões verdes ou encarnados, consoante passassem ou não.
Tudo aquilo foi penoso para mim, para ser sincera; ver a petizada nervosa, não poder saltar para o ringue e abraçar as meninas e meninos que não passavam  (e os que passavam também), e acima de tudo não poder garantir logo à partida que as minhas miúdas iam passar e não iam ver as cartolinas encarnadas, foi muito duro. Já não tenho idade para estas emoções tão fortes, ainda por cima em dose dupla.
Quando a Luisinha fez o terceiro nível e eu ia finalmente poder sair do estado de apneia em que me encontrava desde as 5 da manhã daquele Domingo, vejo a minha pequenita entrar pelo ringue dentro para se abraçar à irmã que tinha acabado de passar mais um nível, numa prova difícil. Nessa altura, eu que já estava a ser reanimada com um desfibrilador para animais de grande porte, julguei que tinha chegado a minha hora. Foi a coisa mais linda que vi.
Comecei este texto por vos contar o dia em que quase faleci trucidada por um comboio. Pois bem, este foi o segundo dia em que mais perto estive de me passar para o outro lado e no dia seguinte sentia-me mesmo como se tivesse sido trucidada, não por um, mas por 5 comboios de mercadorias. Isto é tudo muito bonito até calhar ser os nossos filhos. A próxima vez que me ouvirem dizer que quero pôr as miúdas a fazer um desporto qualquer de competição, internem-me logo num manicómio, ok, porque mais cedo ou mais tarde é lá que eu vou parar mesmo, portanto adiantem-me logo o serviço. .

Ficam as fotos das minhas lindas meninas e os videos das suas exibições.














Nivel 1 - Luisinha



Nivel 1 - Sofia



Nivel 2 - Luisinha



Nivel 2 - Sofia 



Nivel 3 - Luisinha