janeiro 04, 2017

ROMA - Part II

Mas nem só de arte e história vive Roma.
Roma também são as pessoas, e os bairros e a gastronomia.

Um dos locais que também gostei muito de conhecer foi Trastevere. O nome Trastevere vem do latim e significa "além do Tibre" ou além do Tevere.
É um bairro tradicional romano cheio de vida, repleto de bares e restaurantes e um lugar perfeito para dar uma volta ao final da tarde, tomar um aperitivo e depois ficar por ali para comer uma verdadeira pizza romana. Esta é a parte mais conhecida do Bairro Trastevere, onde pode encontrar várias opções de todas as comidas típicas romanas: pizza al taglio (que é a pizza em pedaços  mas pode escolher o tamanho do seu pedaço e depois é pesada sendo paga ao peso), pode encontrar excelentes Trattorias onde se comem pastas deliciosas, paninos, belas gelatarias, com gelados de-li-ci-o-sos, acreditem!
Mesmo estando muito frio, visitámos, pelo menos duas gelatarias que já levávamos daqui referenciadas e os gelados são realmente uma delícia!
Encontramos tudo isto, espalhado por ruazinhas pitorescas, onde quase não entram carros. De dia é encantador, parece que estamos num filme italiano dos anos 50 e à noite é muitíssimo movimentado, com os restaurantes sempre cheios e com imensa vida. Vale mesmo a pena.
Para além disto, os restaurantes (que são muitos) quase porta sim, porta não, alguns são muito em conta. No nosso primeiro jantar em Trastevere, comemos uma pizza por 2 euros!! E sentados!!!
É um local muito agradável, muito "italiano" e como fomos na altura do Natal, fim de ano, ainda apanhámos as ruas e edifícios todos decorados com luzinhas de natal, o que tornou ainda mais bonito este bairro. Se forem a Roma, não deixem de visitar.


Agora acompanhem-me novamente atá à Galeria Borghese porque vos quero falar de outra obra que adorei ver.
Ao exemplo de outros artistas de épocas anteriores, como Donatello, Verrocchio e Michelangelo, Bernini também esculpiu David. E este David tem uma série de curiosidades que eu desconhecia e que fiquei a saber nesta visita à Galeria Borghese. Mais uma vez, sabendo a história daquilo que estamos a ver, tudo se torna tão mais interessante. 
Nesta escultura, ao contrário de, por exemplo, no David de Michelangelo, o mais famoso de todos, Bernini optou por representar David não numa posição estática depois de matar Golias, mas em movimento, eternizando o momento em que David arremessa a pedra que mataria o gigante.
Gladiador Borghese
É sabido que Bernini se inspirou na escultura "Gladiador Borghese" que hoje se encontra no Louvre mas que na altura fazia parte da colecção do Cardeal Scipione Borghese (o grande mecenas e responsável pela construção e gestão da Galeria Borghese). 
As pernas afastadas e o corpo torcido são claramente heranças da escultura na qual se inspirou. 
Comparando esta escultura com as suas congéneres, sabemos que Bernini procurou ser o mais fiel possível ao aspecto bíblico. Ao contrário das esculturas anteriores de David, esta representação de David tem uma bolsa de pastor à volta do torso onde contém as pedras com as quais atingirá Golias. A estátua retrata o momento imediatamente após o qual David retira uma das pedras da sua bolsa para arremessar a Golias e aqueles segundos antes de realmente arremessar a sua arma contra o gigante que o mataria. 
A expressão no rosto de David mostra bem a tensão, e expectativa formadas nestes segundos antes do ataque mortal ao gigante. Uma curiosidade interessante é a de que a cara de David não é mais que o auto retrato do próprio Bernini que, ajudado pelo próprio Cardeal Scipione Borghese, que lhe segurou um espelho para que ele pudesse traduzir no mármore a sua própria fisionomia, se auto retratou no seu David. O que vemos então é a cara de Bernini! 


Esta estátua, originalmente estava encostada a uma das paredes da Galeria Borghese e não no centro da sala como está actualmente. Por essa razão, se olharmos atentamente para a parte de trás da escultura é interessante ver que tem um acabamento diferente, menos perfeito, com os golpes de cinzel muito visíveis e toscos (um dia quando lá forem, reparem neste pormenor).
O calcanhar do pé mais recuado não existia, porque, como disse, estava encostada à parede, tendo sido acrescentado mais tarde, quando a escultura passou a ocupar um lugar de centro na sala. 


Bernini tinha 25 anos quando realizou esta obra. Fabulosa, sem qualquer dúvida.

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