fevereiro 01, 2017

Coisas que me ocorrem

Às vezes gostava de ser um gravador. Eu explico melhor. Gostava de ser um gravador humano que se põe em funcionamento automaticamente quando a conversa que estamos a ter ou quando aquilo que estamos a ouvir é mesmo muito interessante, engraçado ou importante. Também dava jeito se este gravador pudesse gravar as coisas que vou pensando e que são importantes. Bom, eu raramente tenho pensamentos importantes/profundos, sou demasiado matarruana para ter pensamentos profundos, há que dizê-lo com frontalidade. Mas mesmo não tendo pensamentos profundos, sempre vou tendo conversas interessantes e engraçadas e volta e meia chego a ter alguns pensamentos importantes (não profundos mas importantes). E é nessas alturas que eu gostava de ser um gravador, porque me gravava para ouvir/recordar mais tarde. Mas não só a mim, também às outras pessoas! Por exemplo, ontem, e isto acontece várias vezes, estive à conversa com a minha filha mais nova. A minha filha mais nova tem conversas interessantíssimas, tem saídas muito engraçadas, tem ideias maravilhosas, tem uma prosa que é digna de se ouvir e registar para a posteridade. Mas eu, como já não caminho para mais nova e desconfio que a minha memória ainda é mais velha que eu, passado algum tempo e se não registar em lado nenhum, esqueço-me do que estive a conversar e daquilo que ela me disse e que achei tanta piada. O tramado é que quando tenho estas conversas ou estou a fazer o jantar ou estou a dar-lhes banho ou estou a fazer outra qualquer tarefa que também necessita da minha atenção e portanto não dá para parar tudo e ir buscar um pedaço de papel para escrever a coisa. Por isso é que eu gostava de ser um gravador, percebem? Para não perder estas conversas. Assim como guardamos o acervo fotográfico nos álbuns, assim também guardava o acervo de conversas, pensamentos, ideias que fui tendo ao longo dos anos e depois ouvia quando queria. Era um espetáculo! 
Outra coisa que também me acontece muito e que me faz desejar ardentemente ter um gravador incorporado, sei lá, numa axila, ou assim, é o facto de, por vezes me ocorrerem ideias espectaculares e eu querer mesmo muito pô-las em prática mas como não as aponto, as ideias vão para o galheiro e depois vou ter que as ter novamente e não é garantido que isso aconteça.

Isto tudo para vos dizer: a velhice chegou forte e feio e para além de estar a perder a memória, também me dá para escrever sobre temas que não lembram a ninguém, como a ideia absurda de ser um gravador humano. Mas o que é que querem? Tinha de escrever sobre isto porque senão ia esquecer-me e como não tenho um gravador incorporado na axila ou na virilha para gravar este pensamento, aproveitei este tempinho sem nada para fazer para partilhar convosco este meu desejo. No próximo texto conto-vos tudo sobre o terceiro mamilo felpudo que me está a nascer na anca. 
Stay tunned!

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