março 01, 2017

As minhas filhas patinadoras I

Em toda a minha vida, houve duas alturas em que pensei que ia desta para melhor. A primeira foi há uns anos, ainda no meu tempo de Faculdade e a segunda foi no passado fim de semana. 
Certo dia uma colega deu-me boleia da Faculdade e deixou-me ao pé da estação da CP.
Para apanhar o autocarro até casa eu precisava de atravessar a estação, e por conseguinte, atravessar a linha de comboio. Não havia passagem subterrânea como há hoje em quase todas as estações. Eu já sou do tempo da outra senhora e no “meu tempo” não havia cá dessas modernices; era atravessar pela linha ou ir dar a volta pelas Ilhas Britânicas. Bom, estava eu a dizer, que tinha de atravessar a linha, mas como sou moça que desde tenra idade vive um pouco ligada à nave, que se encontra estacionada no Planeta Namec, saí do carro da minha colega, subi para a estação, sempre afundada nos meus pensamentos, que agora não me lembro quais eram mas de certeza que passavam pela salvação do Planeta, ou pela erradicação da fome na Etiópia, e caminhei até à estação, neste estado meio adormecido.
Lembro-me de ter sido "acordada" por um grito ao longe (que afinal até foi bem perto de mim) e que me fez parar a marcha para ver do que se tratava. Ou seja, gaja que é gaja, tem que parar para ver quem é que está a gritar, por mais distraída que vá. E foi isto que me salvou a vida, meus amigos, porque nessa fracção de segundos, passou a alta velocidade, quase a arrancar-me o nariz, um comboio. Pois… eu ia de facto atravessar a linha de comboio sem olhar e, se não fosse um senhor a dar um berro que lhe saiu lá do fundo da alma, para eu parar, eu teria, portanto, lá está, ficado debaixo do comboio.
Mas a verdade é que ainda não tinha chegado a minha hora. Parei a escassos milímetros do comboio, dei um pulo para trás e fiquei ali meia hora a recuperar do susto, feliz só pelo simples facto de continuar viva.
No Domingo passado, acho que estive tão ou mais perto de me finar como no dia do comboio.
Domingo foi o dia em que as minhas ricas filhas foram realizar os seus primeiros testes de patinagem. Para quem não está dentro da cena, eu explico: as miúdas andam desde setembro do ano passado na patinagem. Não, espera, correcção: as miúdas andam, desde setembro do ano passado na patinagem do Sport Lisboa e Benfica! Pronto, importa aqui ser preciso.  Assim sendo, e como já são inclusive atletas federadas pelo Benfica, periodicamente vão tendo que prestar provas daquilo que vão aprendendo. É uma espécie de mínimos para os Jogos Olímpicos, estão a ver? Elas têm aulas onde aprendem os vários elementos da patinagem, treinam coreografias com esses elementos obrigatórios e de tempos a tempos, vão apresentar-se perante um júri, em eventos onde estão também outros clubes com outras meninas e meninos, e têm que prestar provas para irem passando de nível, ate serem umas grandas atletas da patinagem mundial.
Foi portanto a primeira vez que as nossas filhotas (e nós pais) se viram nestas andanças, que, convenhamos, para miúdas de 7 e 11 anos é, no mínimo, assustador. E para miúdas de 45 ainda mais assustador é!
Eu, que como bem sabem, sempre sonhei ser Patinadora do Gelo, entrei em transe dois meses antes do evento. As variáveis assim o justificavam, senão vejam:

- As minhas filhas queridas
- Patinagem Artística
- Vestidas de Patinadoras
- A prestar provas diante de um júri  
- Pelo Benfica
E estão reunidas as condições para eu me ficar ali, esticada no recinto.
As provas realizaram-se no dia 26 de Fevereiro, e às 8 da manhã já tinhamos de lá estar. Eram 5:00 da manhã e eu já estava de pestana aberta, depois de uma noite inteira a olhar para o tecto a fazer as coreografias todas. 
Acordei as miúdas às 6:00 e toca de lhes fazer o penteado, maquilhá-las um pouquinho (um glitter fica sempre bem), vesti-las com aqueles magníficos vestidos de patinadoras cheios de brilhantes e finalmente vestir-lhes o fato de treino com o emblema d' O Glorioso! Também lhes dei o pequeno almoço mas isso agora não interessa nada.
Fotos, fotos, fotos, guardar para a posteridade e ala que se faz tarde. Quando começaram as provas, percebemos que por mais que nos preparemos para ver as nossas bebés prestar provas em frente a um juri, sabê-las nervosas, ver as pernitas a tremer quando chega a vez delas fazerem a sua coreografia, na realidade nunca estamos preparados. e eu, meus amigos, para além de não estar preparada, como é sabido, sou rapariga que sofre dos nervos e portanto ainda menos preparada estava. 
Para mais, as miúdas que estavam lá para prestar provas eram mais que as mães e primeiro que chegasse a vez das minhas, pareceu-me uma eternidade. Quando chegou a vez da primeira entrar eu já estava uma miséria, parecia que já tinha tido três ataques de esgana, apesar dos dois calmantes que já tinha enfiado no bucho.
A Luisinha prestou provas para 3 níveis e a Sofia para 2. Ambas passaram os seus níveis, com distinção, apesar de, no terceiro nível a Luisinha ter dado uma pequena queda e eu ter ficado sem batimento cardíaco para aí durante umas duas horas e meia. Claro que na  minha opinião totalmente imparcial, acho que o júri não tinha mesmo outra hipótese senão passar as minhas duas miúdas, porque, de facto, as pequenas foram (são) para cima de espectaculares. Mas isto, pronto, é a minha opinião, totalmente isenta!
O júri era constituído por três senhoras. A do meio, uma ruiva que parecia a Mérida, mas versão mázona de primeira, era a dona daquilo tudo. Quando as miúdas acabavam a sua coreografia, chamava-as e mandava-as repetir passos. Depois, no fim, trocavam as três umas impressões e, ou mostravam cartões verdes ou encarnados, consoante passassem ou não.
Tudo aquilo foi penoso para mim, para ser sincera; ver a petizada nervosa, não poder saltar para o ringue e abraçar as meninas e meninos que não passavam  (e os que passavam também), e acima de tudo não poder garantir logo à partida que as minhas miúdas iam passar e não iam ver as cartolinas encarnadas, foi muito duro. Já não tenho idade para estas emoções tão fortes, ainda por cima em dose dupla.
Quando a Luisinha fez o terceiro nível e eu ia finalmente poder sair do estado de apneia em que me encontrava desde as 5 da manhã daquele Domingo, vejo a minha pequenita entrar pelo ringue dentro para se abraçar à irmã que tinha acabado de passar mais um nível, numa prova difícil. Nessa altura, eu que já estava a ser reanimada com um desfibrilador para animais de grande porte, julguei que tinha chegado a minha hora. Foi a coisa mais linda que vi.
Comecei este texto por vos contar o dia em que quase faleci trucidada por um comboio. Pois bem, este foi o segundo dia em que mais perto estive de me passar para o outro lado e no dia seguinte sentia-me mesmo como se tivesse sido trucidada, não por um, mas por 5 comboios de mercadorias. Isto é tudo muito bonito até calhar ser os nossos filhos. A próxima vez que me ouvirem dizer que quero pôr as miúdas a fazer um desporto qualquer de competição, internem-me logo num manicómio, ok, porque mais cedo ou mais tarde é lá que eu vou parar mesmo, portanto adiantem-me logo o serviço. .

Ficam as fotos das minhas lindas meninas e os videos das suas exibições.














Nivel 1 - Luisinha



Nivel 1 - Sofia



Nivel 2 - Luisinha



Nivel 2 - Sofia 



Nivel 3 - Luisinha

1 comentário:

Anónimo disse...

Magníficas e claro está, concordo contigo o júri só tinha uma hipótese que era passá-las. Beijinhos.