março 31, 2016

Esta coisa que é a cabeça

Quando era miúda sonhava com o dia em que deixaria de ser miúda e poderia fazer coisas que só os adultos podem fazer. Depois, passei a sentir-me confortável na idade que ia tendo e hoje desejo com todas as minhas forças voltar a ser miúda. Sempre jurei que esta coisa da idade nunca me ia afectar, porque dentro da minha cabeça vive uma Cristininha que nunca saiu dos 10 anos e que se não existisse o espelho (essa invenção do demo que só serve para nos trazer depressões nervosas) eu iria sempre viver na ideia de que mantinha o mesmo aspecto, a mesma pele, a mesma elasticidade, a mesma juventude dos meus 10 anos. A verdade é que não consigo perceber, nem imagino alguém a olhar para mim e a ver uma “senhora” de 44 anos, tal é a minha juventude interior.
Mas, como dizia o outro, a beleza/juventude interior não interessa nada a não ser que te consigam virar do avesso. Como isso ainda não é possível, nós acabamos por ser aquilo que as outras pessoas (e o espelho) fazem de nós, e que se entranha em nós através da convivência que temos com elas, pelo que vamos ouvindo dos nossos pares, pelas reações que vamos despoletando neles, pelos olhares que vamos interpretando, etc, etc, etc. Tudo isso entra por nós adentro e acorda-nos para a realidade de que… estamos a envelhecer.
Não sei se estou a fazer sentido… quando falo a sério tendo a baralhar as ideias. Para mim, escrever a sério é como se fosse mais um reconhecimento de que já não tenho 10 anos, nem 15, nem sequer 20. Na realidade, escrever (ou falar) a sério custa-me.
O que me custa muito também é o esquecimento, a memória que falha cada vez mais. Vão dizer-me que todos nós hoje em dia, velhos ou novos, padecemos desse mal. Sim, poderá ser verdade, mas isso não atenua aquilo que me custa.
Hoje vi um vídeo tão, mas tão engraçado. Era hora de almoço. Tenho recorrido de todos os recursos que disponho para me tentar lembrar que vídeo era porque queria muito partilhá-lo. Não consigo. Não me consigo lembrar de como era o vídeo, do que tratava e onde o vi… que triste. Que triste constatar que a Cristina de 15 anos que decorava programas inteiros do Herman José e os recitava para os seus colegas de turma se rirem às custas do espectáculo gratuito, agora não se lembra de um vídeo que viu há 3 horas atrás.

Se calhar isto é um fait divers… mas penso que esquecer-me constantemente do código de acesso ao meu Homebanking e esquecer-me sempre de o apontar porque desconfio que me vou esquecer de onde o apontei, é coisa para ser esquisita.

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