março 04, 2013

Uns morrem, outros ficam assim... eu fiquei assim, o que é que se há-de fazer?

O uniforme mai lindo do mundo inteiro (à venda na Amazon por um balúrdio)
No outro dia e a propósito de um comentário que fizeram à minha roupa (que parecia uma hospedeira), lembrei-me que eu, efectivamente, já fui uma Hospedeira!
Como qualquer criança, eu, que também já fui uma, só que há muuuuuuuuiiiitos anos atrás, também tinha um sonho de infância: queria ser hospedeira!
Mas... "deribado" do meu aspecto físico nunca ter sido, digamos, o meu maior atributo (porque que se há coisa que nunca fui foi bafejada pela beleza) sempre achei que isso era coisinha para nunca acontecer. Mais depressa arranjava um emprego numa churrasqueira a virar frangos, do que entrava para hospedeira da TAP.
Mas também percebi que, na ausência de alguns atributos, outros há que, se bem geridos e quando em forte presença, conseguem vencer aqueles que só a Mãe Natureza pode dar ou tirar e no meu caso, esse atributo sempre foi a força de vontade.

Eu posso ser a personificação da Preguiça (aquele ursinho que a única coisa que faz é agarrar-se a uma árvore e fica ali na cena dele, tão a ver?) mas, na presença de alguma coisa que quero MUITO, eu sou pior que a a Ilda Furacão! E eu queria ser Hospedeira, com a breca!!!!!
Então, toca de falar com o saudoso Sr.Carvalho que vivia no 3º Esq e trabalhava na TAP aos anos, para ele me trazer uma ficha de candidatura. Isto sem pedir opinião a pais, irmãs, primos, tios, nada! Fui eu que decidi!
Preenchi a ficha, mandei pelo Sr.Carvalho e fiquei à espera que a coisa pegasse.
Um belo dia recebo um telegrama (sim, já foi há muito tempo; sim, sou mecinha para já ser antiga e por isso recebi um telegrama e não um e-mail), a convidar-me para iniciar o processo de recrutamento para a TAP.
PIMBA! Ia ser Hospedeira!!
E no dia marcado, lá fui eu com uma maquilhagem feita por mim, "à la" Lydia Barloff num dia mau, vestida com um  modelito muito jeitoso mas paciência, era o que havia, e uns sapatinhos que, para além de me apertarem os calos que tinha e aqueles que ainda não tinha (mas que iam nascer depois daquele dia) convencida de que aquilo tudo ia ser "a piece of cake".
Mas não foi! A verdade é que a coisa mais se assemelhou a um desastre de mota com muito sangue à mistura do que a uma entrevista de emprego de sonho.
'Pra já, quando lá cheguei, sentaram-me a uma mesa com mais 35678 candidatas (sim, eu pensava que só eu é que tinha sido chamada - eu tinha 18 anos, e era inocente ok??) todas LINDAS de morrer, bem vestidas, bem penteadas, bem tudo.
E eu, tudo bem!!! Mantive-me ali firme e hirta à espera que me chamassem.
Fomos chamadas por grupos e quando o meu grupo foi chamado para a entrevista de grupo (logo na 1ª fase), por 5 ex-assistentes de bordo, daquelas muito simpáticas, escolhidas a dedo, tão a ver? eu fiquei logo pelo caminho.
A pergunta que me foi dirigida foi: "para si o que é que é ser Assistente de Bordo?"
Eu, na minha cena de inocência, versus dose de nervos capaz de alimentar uma pequena central nuclear, respondo com esta pérola:
-Ah e tal, há quem diga que é uma criada de luxo... (sorriso amarelo - daqueles de quem sabe que acabou de dizer uma bacorada mo-nu-men-tal sem realmente querer dizer uma bacorada mo-nu-men-tal?).
(Alô??????) qual era a parte de que me estava a candidatar àquela função e que tinha à minha frente 5 senhoras que toda a vida fizeram aquilo, que eu não percebi??
Ora... não será difícil adivinhar o que se passou dali para a frente. Para além das outras meninas terem todas olhado para mim ao mesmo tempo com cara de "já foste bitch", ainda tive de levar com meia hora de raspanete das senhoras que me disseram de tudo um pouco, fechando a sessão de pancadaria com: "para além de tudo, a menina tem os dentes muito feios para ser assistente de bordo". TOMAAAAAA!!!
Pensei cá para mim: "Bem, se calhar agora, o melhor é apanhar o 55 e ir andando para casa", mas sempre pensando que, depois daquilo, a minha carreira como hospedeira tinha terminado sem nunca sequer ter começado (e que sendo assim era melhor voltar ao plano dos frangos).
O sonho continuava, a força de vontade também, mas caramba... dizer a uma ex-assistente de bordo que a profissão dela se resumia a "uma criada de luxo", se calhar foi o equivalente a ter mandado um daqueles puns sonoros, ou se calhar o pum teria sido mais bem tolerado, se eu tivesse avançado logo de seguida: "aquela feijoada da minha mãe... ai, ai, foi a última vez", ou se tivesse olhado para a miúda sentada ao meu lado como quem diz: "P'amor de Deus!! Dar puns em plena entrevista"! e pôr as culpas nela, ou isso... não sei... acho que qualquer coisa tinha sido melhor.

Resumindo uma história que já vai longa, eu acabei por entrar para a TAP. Fui novamente contactada por telegrama, mas para terra, onde passei os 4 anos mais divertidos da minha vida, a viver aquele que sempre fora o meu sonho.
Acabei, mais tarde (lá está a força de vontade de que vos falei), por entrar para bordo, fazer o curso, fazer alguns voos e receber a notícia (ainda nem tinha assinado contrato) que afinal, a bordo só faria um contrato, porque nos testes médicos que fazem a todas as candidatas a bordo, me tinham encontrado, 5 milímetros de desvio na bacia, o que seria prejudicial para o desempenho das minhas funções a longo prazo.
No fundo foi isto... não estava destinado a ser... se calhar o desvio da bacia foi com o peso dos dentes.
Não sei...

P.S: Só para vos dar uma inside information, há uns tempos, quando a Emirates esteve em Lisboa a recrutar Assistentes de Bordo, eu enviei a minha candidatura... eu tenho agora, quantos anos? Ora... "noves" fora nada.... é isso! 41! e MESMO assim, envio uma candidatura a assistente de bordo para uma das maiores companhias aéreas. É como diz o título do post: uns morrem, outros ficam assim... eu... lá está... 

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