outubro 21, 2016

Patins deste mundo venham a mim!

Tenho uma coisa a confessar-vos: Eu queria ter sido patinadora artística!
Gostava de ter tido oportunidade de usar usar aqueles vestidinhos metade brilhantes, metade tecido, usar aqueles patins com a lâmina que desliza no gelo, maquilhagem cheia de glitters, o cabelo apanhado, super esticadinho com gel e deslizar no gelo, fazer piruetas, lutz, toe loops, duplo axels, duplo lutz, salchows, triplo flips e ritbergers. Tudo isto com uma leveza e uma facilidade, como se já tivesse nascido de patins calçados.
Como devem imaginar a coisa nunca se deu, eu nunca sequer tive um par de patins. Minto, tive sim senhora! Tive uns patins de metal, com umas rodas de plástico encarnadas, comprados em Ayamonte, depois de infernizar a cabeça dos meus pais até á exaustão porque queria um par de patins! Mas convenhamos, não era aquilo que eu queria! Para já os patins que queria eram os das patinadoras de gelo, aquelas botinhas brancas com salto e a lâmina por baixo e também queria viver na Ucrânia e ter um ringue de gelo à porta de casa para poder ser uma patinadora do gelo!!! Nunca se deu também, claro. E não será difícil perceber porquê.
As lembranças que tenho desses patins são os de tentar andar em cima deles na rua ou em casa e de ficar desgostosa por não ser graciosa como as meninas da patinagem do gelo que eu via na TV, porque aquilo não deslizava, aquilo arrastava-se. Para além disso, irritava-me que as rodas (de um apuradíssimo plástico Ayamontense) ficassem logo todas arranhadas do alcatrão onde eu andava. Resultado: como também não havia naquela época (estamos a falar da era da Pedra Lascada) sítios onde se praticasse patinagem e mesmo que houvesse, os meus pais não iriam pagar para eu ir aprender a andar de patins, eu acabei por desistir e por ter de me contentar apenas em ver TODAS as competições que davam na televisão de patinagem artística. Eu não via programas infantis, ou melhor, se houvesse patinagem e programas infantis à mesma hora, eu, nem sequer pensava duas vezes, via a patinagem, claro.
E assim cresci, até aos dias de hoje e o sonho mantém-se. Eu continuo a sonhar em ser uma patinadora artística ucraniana e a usar aqueles vestidinhos brilhantes e deslizar no gelo a fazer as figuras obrigatórias e os programas livres e as piruetas e os piões e tudo e mais alguma coisa. Sempre sem qualquer dificuldade e com uma leveza de flamingo.

Ora o que é que sucede?
As minhas duas filhas – a genética é tramada – também adoram patins, e também nos chatearam a cabeça até à exaustão para que lhes comprássemos uns patins. Eu, ao ver-me espelhada nas minhas duas criaturinhas, tive o chamado dejá vu e tive que superar o medo de as ver cair e quem sabe partir qualquer coisa acedendo a que elas tivessem cada uma o seu par de patins. Benzi-me. 
Deste ponto a inscrevê-las numa escola de patinagem, foi um pulinho. E agora elas estão numa escola de patinagem e eu vou apenas assistir, ficar na bancada a babar e a sonhar que sou eu quem ali anda a deslizar pelo ringue, qual gazela ucraniana. Vou viver o meu sonho através das minhas filhas. Enfim, não vou viver o sonho original porque cá não há patinagem no gelo e não estamos na União Soviética ou na Ucrânia e portanto as petizes andarão sobre patins de 4 rodas que, pese embora não tenham o glamour dos patins de gelo, também são lindos!! OS PATINS SÃO LINDOS, MEU DEUS!!!!!!
E é isto, agora sou mãe de patinadoras. Na impossibilidade de ser "A" patinadora, tenho de me contentar em ser apenas a mãe, aquela que fica na bancada, aquela que “não calça”, qual jogador de futebol atirado para o banco de suplentes, aquela que já está velha para estas coisas de miúdos, aquela que ainda perguntou á professora se não havia aulas para adultos e levou com a resposta: “Credo!! Não queremos andar aqui a contar ossos”!

No fundo é isso...

Os patins são lindos, pá...



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