maio 24, 2012

And now for something completely new!

Adoro histórias. Adoro História.
Estas duas coisas conjugadas levaram-me a fazer uma pesquisa e a descobrir o que significam muitas das expressões populares que usamos e com as quais crescemos (os nossos pais e os nossos avós já as usavam).
Ora vejam se não é giro!



Quando vamos a uma casa de penhores, ainda dizemos «pôr no prego». Se se pergunta o significado desta expressão, as pessoas associam-na ao facto de muitas das coisas empenhadas se poderem pendurar em pregos, como um colar, um anel, uma pulseira. Nada disso: a expressão nasceu na segunda metade do século XIX, porque a maior parte das casas de penhores de Lisboa pertenciam a um prestamista de apelido «Prego». Então, «pôr no prego» era «pôr no Senhor Prego».
Quando pede uma «imperial», já se questionou por que razão se lhe chama assim? No Porto, por exemplo, diz-se «fino», mas a razão é fácil de perceber: porque os copos em que se serve a cerveja são habitualmente finos, estreitos. Mas porquê «imperial»? No começo do século XX, a principal produtora de cerveja, em Portugal, era a Fábrica Germânia Imperial, que foi a primeira a vender cerveja à pressão. Portanto, uma «imperial» não era senão um copo de cerveja da Germânia Imperial. Resta acrescentar que, em 1916, quando Portugal declarou guerra à Alemanha, confiscou todos os bens germânicos e, portanto, também a fábrica de cerveja, que mudou o nome para… Portugália (muito mais nacionalista, aliás). Da próxima vez que o meu estimado leitor for à cervejaria Portugália da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, suba ao 1.º andar: verá, no patamar, um painel de azulejos com o símbolo da Fábrica Germânia Imperial e uma legenda com a explicação que acima acabou de ler.
«Ficar a ver navios…» A origem desta expressão, utilizada quando alguém fica com as suas expectativas frustradas, tem que ver com a 1.ª invasão francesa, em 1807. Napoleão tinha ordenado ao general Junot que aprisionasse a família real portuguesa; todavia, apesar de caminhar a marchas forçadas com o seu exército, quando Junot chegou à capital já o príncipe regente D. João e a sua numerosa comitiva tinham partido, a bordo de 55 navios, a caminho do Brasil; o general francês ainda avistou os últimos, ao largo de Cascais, mas nada pôde fazer; ficou, portanto… «a ver navios».
Quem conhece Londres sabe que um dos seus numerosos jardins é o Green Park. Porquê o nome? Verde é o que não falta em todos eles. Então porque é que este se chama Green? Em 1659, no âmbito da afirmação do Portugal Restaurado pela diplomacia lusa, foi acordado o casamento de D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV, com o rei Carlos II de Inglaterra. Foi a famosa rainha que introduziu o hábito do chá na Grã-Bretanha. O tão «british» chá das cinco é afinal de origem portuguesa. Mas D. Catarina foi muito infeliz no casamento. Nunca conseguiu ter filhos e o marido tornou-se um incorrigível mulherengo. Um dia, quando Carlos II passeava com a rainha e as suas damas de companhia no parque que rodeava o palácio, ele cortou uma flor e a rainha, naturalmente, estendeu a mão. O rei, porém, ofereceu-a a uma das jovens aias. Humilhada e enfurecida, D. Catarina ordenou aos jardineiros que arrancassem todas as flores desse jardim e que jamais as voltassem a plantar: só relva e árvores. A sua vontade seria respeitada até hoje, nascendo assim o Green Park.
O 1º milho é dos pardais: No tempo dos Romanos, era costume os agricultores oferecerem os primeiros frutos das suas colheitas, às aves. Pensava-se na altura que eram as aves que levavam as oferendas aos Deuses. O conhecimento desse hábito, foi-se transmitindo de geração em geração até que no séc. XVI – quando o milho chegou à Europa – a expressão evoluiu. O pardal era o símbolo de todas as aves e o milho abundava nas culturas portuguesas.

Ir para o maneta: Conta-se que por alturas da invasão de Portugal por parte dos franceses, um general chamado Loison tinha perdido aum braço numa anterior batalha. Esse militar era responsável pelas torturas aos presos e tinha, inclusivamente, causado várias mortes. Por ser tão terrível nas torturas que executava surgiu um medo popular do general Loison, mas ninguém o tratava por esse nome. Para o povo, Loison era “o maneta”. . E quando havia perigo de se ser capturado, ouvia-se logo o conselho: “Tem cuidado, qua ainda vais para o Maneta”.
À grande e à Francesa: Jean Andoche Junot auxiliou Napoleão Bonaparte durante a primeira invasão dos franceses ao território português. Jean Junot viveu em Portugal durante alguns anos e sempre de forma extremamente luxuosa. A imaginação, a observação e a sabedoria populares encarregaram-se de criar esta expressão.
Que maçada: Nos tempos áureos das conquistas imperiais romanas, as tropas de Roma tinham uma zona para conquistar. Perto do Mar Morto, chamada Massada. Os Zelotos, povo aí residente trancou-se num templo na esperança que os romanos não os descobrissem. No entanto, o exército começou imediatamente a destruir o templo enquanto o povo Zeloto desesperava por alguma solução. Para evitar a humilhação da rendição, os Zelotos decidiram-se por um suicídio colectivo. Esta expressão tornou-se sinónimo da grande chatice pela qual teve de passar este pequeno povo.

Erro crasso: Na Roma antiga, o poder dos generais era tripartido. O primeiro triunvirato de sempre era composto por Caio por Caio, Júlio e Crasso. Foi dada uma simples missão a este último: atacar os Partos, um pequeno e aparentemente inofensivo povo. Crasso descurou qualquer estratégia e o resultado foi a derrota.

Resves Campo de Ourique: No dia 1 de Novembro de 1755 – ironicamente dia de Todos os Santos – uma das maiores tragédias abateu-se sobre Portugal. Um terramoto de elevada magnitude, seguido de um tsunami, atingiu a cidade de Lisboa. Morreram milhares de pessoas. A força do tsunami foi de tal ordem que as águas entraram por Lisboa adentro e chegaram bem perto de Campo de Ourique, foi resves.

Ter ouvidos de tísico: Muitos soldados que combateram na II guerra Mundial (1939-1945) sofreram uma doença chamada tísica. Esta maleita assemelhava-se muito ao que hoje conhecemos por tuberculose pulmonar. Quem sofre desta doença caracteriza-se por ter uma sensibilidade auditiva fora do normal.


Calcanhar de Aquiles: Segundo a mitologia grega, Tétis a mãe de Aquiles, queria tornar o seu filho indestrutível. Para que isso acontecesse, mergulhou-o num lago mágico, segurando-o pelo calcanhar. Alguns anos mais tarde, durante a Guerra de Tróia, Aquiles foi atingido no único sítio que não tinha sido mergulhado nas águas mágicas, precisamente o calcanhar. Descobriu-se assim o único ponto capaz de enfraquecer o temido guerreiro.

Queimar as pestanas: Aqueles que estudavam antes da existência da electricidade não tinham vida muito facilitada. Antes, pelo contrário. Estudavam e trabalhavam à luz de velas ou de lamparinas e para que pudessem ler ou trabalhar convenientemente, tinham de as colocar muito perto do texto, correndo sérios riscos de ficar com as pestanas queimadas.

Fazer tábua rasa: Os empiristas romanos, seguidores do filósofo grego Aristóteles, diziam que a alma sem experiência era como uma tabula rasa. A tabula rasa era uma pequena tábua de cera que não tinha nada escrito ou desenhado. Mais tarde, o termo foi adaptado à vida urbana e transformado para o significado que hoje conhecemos, ou seja, esquecer e não ligar a determinado assunto.

Mal e porcamente: A expressão inicial nem era esta mas nem toda a gente compreendia o que queria dizer “mal e parcamente” ou seja, com poucos recursos. Portanto, este advérbio foi facilmente alterado para algo mais acessível.

Fazer tijolo: A destruição causada pelo terramoto de 1755 foi gigantesca. Com o objectivo de utilizar a argila para fazer tijolos, de modo a reerguer as casas que caíram, os restos de antigos cemitérios árabes foram reutilizados. Mas entre a argila eram frequentemente encontradas ossadas. Daí que tivessem surgido frases como “daqui a uns tempos estou a fazer tijolo” entre os populares.

Andar em fila indiana: Os índios americanos andavam sempre em fila para; à medida que fossem avançando irem apagando as pegadas dos que iam à frente. Quando os  cara pálidas viram este comportamento, não hesitaram em começar a utilizar o termo. “fila indiana”.

Obras de Sta.Ingrácia: Fundada em 1568, a Igreja de Sta.Ingrácia na freguesia de S.Vicente de Fora, em Lisboa, é a responsável por outra das mais famosas expressões populares portuguesas. Mais conhecida desde 1916 como Panteão Nacional, a Igreja de Sta.Ingrácia ruiu em 1681 e começou a ser reconstruída. As obras, no entanto, duraram até meados do século xx. É que as obras de Sta Engrácia foram mesmo longas, duraram nada mais nada menos que 350 anos!!

Cai o Carmo e a Trindade: O terramoto de 1755 deixou muitas marcas físicas. Mas há marcas culturais que também persistem. Uma delas é esta expressão. Durante o terramoto, ouviu-se um enorme estrondo por toda a cidade de Lisboa. Quando os habitantes descobriram qual tinha sido a verdadeira causa de tal barulheira, logo disseram: “Caíu o Carmo e a Trindade”, isto é, desabaram os conventos do Carmo e da Trindade.

Não perceber patavina: Tito Lívio, natural de Patavium (hoje Pádova, Itália) usava um latim horroroso. Nem todos o entendiam. Daí surgiu o Patavinismo, que significava não entender Tito Lívio, ou seja, não perceber patavina.

Assentar a carapuça: Por altura da Inquisição, durante a idade Média, os Judeus eram obrigados a usar um chapéu bicudo, para que pudessem ser distinguidos dos cristãos.

Pior cego é aquele que não quer ver: Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D'Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a ver ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imaginava era muito melhor. Pediu ao cirurgião que lhe arrancasse os olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver.

É de se lhe tirar o chapéu: Foi com o Rei Luís XIV que a França disciplinou as saudações com o chapéu. Os cumprimentos poderiam ser feitos de várias maneiras dependendo da importância social de quem era saudado. O Rei ordenava que o chapéu só fosse tirado em ocasiões especiais. Assim, os Portugueses que trouxeram a novidade, viviam perguntando se a ocasião era “de se lhe tirar o chapéu”.

A dar com um pau:  Esta frase nasceu no Nordeste brasileiro. Vindas de África, milhares de aves, extenuadas pela travessia do Atlântico, pousavam nas terras em busca de alimento. Estes bandos constituíam uma séria ameaça às plantações. Os agricultores, à falta de outras armas, matavam os pobres pássaros à paulada.

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